segunda-feira, 21 de março de 2016

O Retrato Barulhento

Olá Queridos!

Hoje trago uma creepy traduzida pela Creepypasta Brasil.

Estou preparando pra vocês uma resenha do filme Boneco do Mal, então.....aguardem!

Inúmeros médicos a examinaram até alguns deles decidirem admitir que ela talvez estivesse sofrendo de algo que eles nunca haviam presenciado antes. No entanto, mesmo não podendo afirmar nada, eles tinham certeza de uma coisa: Era terminal. Eventualmente, essa doença ia levar a vida da sua mãe embora.


Você consegue se lembrar do inicio da doença. Aconteceu quando você e sua família visitavam parentes numa cidade pequena ao leste; a viagem acabou depois que sua tia ficou enfurecida com sua mãe após ela destruir uma foto da sua avó. Você nunca entendeu o motivo da sua tia ficar tão irritada, era apenas uma foto. Independentemente, sua família teve que arrumar as malas e partir no dia seguinte.

No caminho de casa, sua mãe parecia ter algum tipo de reação alérgica, presumindo que era apenas algo passageiro, ninguém deu muita importância. Todos pensavam que logo iria passar; que só precisavam chegar em casa, mas nunca passou. Semanas, meses depois de vocês retornarem as alergias da sua mãe ainda estavam lá e continuavam a piorar; era um processo de evolução lento, mas ela não melhorou nem sequer por um dia – antes de ficar realmente horrível ela costumava brincar falando que as alergias pareciam não querer ir embora nunca – mas não demorou muito para que ela parasse de brincar com a própria doença, que tirava demais dela, a fazendo ficar agressiva e azeda; ela se irritaria com as menores coisas e dormiria a qualquer momento, até em meio a conversas. Um dia você a viu adormecer enquanto caminhava – lá estava ela, caminhando, e seus olhos começaram a se fechar gradativamente até ela se assustar e abri-los novamente –. Você tentava ajudar ao máximo, mas não havia muito que pudesse ser feito; toda vez que ela gritava você tentava lembrar que era culpa da doença e da exaustão, assim você não gritaria de volta.  

A doença começou a afetar mais do que sua mãe; a deterioração dela acabou levando a família junto emocionalmente, enquanto ela piorava, seu pai e seu irmão pioravam também. Você também não ficava atrás, mas fazia o melhor pra fingir que nada estava acontecendo. Eventualmente, tudo acabou se tornando “demais” para o seu pai; você acordou numa Terça-Feira e leu uma nota dele explicando os motivos pelos quais ele não poderia mais ficar na mesma casa que a sua mãe.

Ele disse que estava partindo para sempre e que levaria seu irmão consigo, não havia um destino na nota; Ele simplesmente partiu. Havia deixado você para cuidar da sua mãe sozinho.

Por anos, eram apenas vocês dois. A cada dia ela ficava pior, e a cada dia você lutava mais consigo mesmo para não ir embora assim como seu pai havia feito. A cada dia mais e mais médicos a examinavam e davam a você a mesma resposta vazia e sem esperanças. Era sempre algo que eles nunca haviam visto antes. Desenvolvia-se de jeitos que eles não entendiam. Não fazia sentido. Era terminal.

Era terminal – sempre aquilo – até que eventualmente você desistiu dos médicos completamente. Sua mãe estava por um fio naquele ponto, não havia nada que eles pudessem fazer, então por que você perderia seu tempo conversando com eles? Invés disso, você ficava em casa o dia todo tomando conta dela. Nos momentos onde você não estaria ocupado fazendo alguma obrigação, você se sentaria e tentaria ler – não que você conseguisse se concentrar em livros – mas era mais fácil lidar com eles do que com a TV. Além do mais, se você decidisse assistir TV, provavelmente não escutaria sua mãe quando ela lhe chamasse, caso precisasse de algo.

Nos anos finais, apenas uma coisa que você fazia conseguia trazer uma fração de sorriso para o rosto da sua mãe: Tirar fotos dela. Ela sempre gostou de tirar fotos, mesmo quando criança. Você ainda conseguia se lembrar das histórias que ela e a sua avó haviam lhe contado, como sempre que ela via alguém com uma câmera nas mãos, pediria para tirassem uma foto dela, mesmo se a pessoa fosse um completo estranho. Quando ela ficou mais velha, claramente aprendeu que não deveria se aproximar de estranhos para pedir fotos, mas isso não fez com que ela perdesse o desejo de tirá-las. Então, todos os dias você entraria no quarto dela com uma câmera nas mãos, tentaria animá-la de todas as formas possíveis até conseguir um bom ângulo e dizer: “Hora da foto, mãe. Diga ‘x’” e o sorriso que você tinha familiaridade apareceria por alguns momentos.

Uma noite enquanto você passava os olhos por um livro que você nem sequer lembra o nome, você percebeu que sua mãe não o havia chamado há algum tempo. Preocupado que você tivesse se concentrado demais no livro e não escutado a voz dela, você se levantou e resolveu checar, mas assim que alcançou o quarto, seu coração quase parou. Ela estava morta. Depois de todo aquele tempo, a doença finalmente havia tirado a vida dela. De certa forma você estava contente porque o sofrimento havia acabado, mas aquilo não tirou o vazio e a sensação de perda que estava sentindo.

Agora você estava completamente sozinho.

Com a sua mãe morta, você não fazia ideia de como prosseguir. Durante anos, cuidar dela foi a única coisa que você fez, mas agora ela estava morta.

Sem saber o que fazer, você permaneceu na casa durante a maioria dos dias, ainda tentando se concentrar em livros mesmo sem fazer ideia do que estava lendo. Um dia ou dois depois que sua mãe foi cremada, você lembrou da câmera e de todas as fotografias que havia tirado; decidindo imprimir a última delas, retirou algum porta-retratos de uma caixa velha e decidiu pendurá-la no quarto, acima da cama. Você ficou lá e chorou por horas depois disso, sem acreditar que ela realmente estava morta.

Em algumas noites enquanto você “lia”, chegava a escutar ela te chamando do mesmo jeito de antes, você fecharia o livro e começaria a caminhar antes de finalmente lembrar que era só sua imaginação.

Na maioria das vezes essa realização fazia você chorar ainda mais.

Uma noite enquanto você caminhava em direção ao seu quarto, achou ter escutado a voz dela novamente. No fundo sabia que era imaginação, mas de qualquer forma decidiu que iria checar o quarto dela.

No trajeto você pegou a câmera e a levou consigo, colocando a cabeça no cômodo e espiando como sempre havia feito, só que encarando a foto acima da cama dessa vez. Percebendo a câmera em suas mãos você a mirou calmamente na foto pendurada na parede, dizendo: “Hora da foto, mãe. Diga x.” quase engasgando em cada palavra enquanto lágrimas começavam a sair dos seus olhos.

Antes de tirar a foto, lembrou do sorriso se formando em seu rosto novamente e foi aí que você perdeu totalmente o controle, largando a câmera e indo em direção a cama, agarrando um travesseiro e arrancando a foto da parede, a jogando no chão um momento depois.

Enquanto o vidro se quebrava, você se ajoelhava e observava os cacos agora deitados no tapete, cortando seus dedos enquanto tentava arrancar a foto do porta-retratos, começou a rasgá-la em pedaços pequenos e não parava de chorar.

Nos dias seguintes você apenas retornou ao hábito de leitura, tudo parecia normal, pelo menos o mais normal possível desde que sua mãe morreu, no entanto, você não escutava mais a voz dela.

Você se convenceu de que ao rasgar a foto havia liberado algum tipo de sentimento interno que havia te ajudado a superar a morte, e que aquilo havia feito a voz sumir da sua mente; realmente estava agradecido por isso, já que só fazia você sofrer mais.


Agora o único sofrimento que você tinha era uma pequena reação alérgica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário