Na cidade de Kansas,
Missouri, na tarde do dia 2 de Janeiro de 1935, um homem entrou no saguão do Hotel
President e pediu por um quarto que ficasse bem longe do
térreo, vários andares acima. Não carregava bagagens. Assinou o registro como
"Roland T. Owen" de Los Angeles e pagou por um dia de estadia. Foi
descrito como um homem alto, jovem, charmoso, com uma "orelha de
couve flor" e com uma cicatriz enorme ao lado da cabeça. Ele
recebeu as chaves do quarto 1046.
No caminho que fez até seu
quarto, Owen falou para o rapaz que era responsável por carregar as malas,
Randolph Propst, que sua ideia original era fazer check-in no Hotel Muehlebach, mas
achou um absurdo pagar cinco dólares por uma noite de estadia. Quando chegaram
até o quarto, Owen tirou dos bolsos do seus casaco uma escova de cabelo, uma
escova e pasta de dente, e colocou-as no banheiro. Os dois saíram, o
funcionário trancou o quarto e ambos voltaram para o saguão. Ele deu a chave a
Owen, e o cliente saiu do Hotel enquanto Randolph voltou para suas tarefas
habituais.
Mais tarde naquele dia, uma
camareira foi até o 1046 para fazer a limpeza do quarto. Owen estava dentro do
quarto. Permitiu que ela entrasse e pediu que deixasse a porta destrancada,
pois estava esperando um amigo que viria em breve. Ela notou que o lugar estava
bastante escuro, um pequeno abajur era a única fonte de iluminação no local.
Posteriormente disse para a policia que Owen parecia estar nervoso, até mesmo
amedrontado. Enquanto fazia a limpeza, Owen colocou seu casaco e saiu,
lembrando-a que queria que o quarto ficasse destrancado.
Por volta das 16h, a
camareira voltou para o 1406 com toalhas novas. A porta ainda estava destrancada
e o quarto pouco iluminado. Owen estava deitado na cama, totalmente vestido. Em
uma escrivaninha ela viu um bilhete que dizia "Don, voltarei em quinze
minutos. Me espere."
A próxima movimentação que
se tem registro de Owen foi por volta das dez e meia da manhã do dia seguinte,
quando a camareira foi fazer limpeza no quarto mais uma vez. Ela destrancou a
porta com uma chave-mestra (algo que só conseguiria fazer se a porta tivesse
sido trancada pelo lado de fora). Quando entrou, ficou um tanto nervosa ao ver
Owen sentado silenciosamente em uma cadeira, observando a escuridão. Esse
momento constrangedor foi quebrado pelo toque do telefone. Owen atendeu. Depois
de ouvir a linha por alguns instantes, falou "Não, Don. Não quero comer.
Não estou com fome. Acabei de tomar café da manhã." Depois de desligar,
por algum motivo começou a interrogar a camareira sobre as tarefas que ela
realizava ali no Hotel President. Novamente ele reclamou do preço absurdo do
Hotel Muehlebach.
Ela terminou de arrumar o quarto,
pegou as toalhas usadas e saiu, bastante feliz de não precisar mais ficar na
presença daquele hóspede estranho.
Naquela tarde, novamente foi
ao quarto 1046 com toalhas limpas. Pelo lado de fora, ela ouviu dois homens
conversando. Bateu na porta e anunciou o motivo de estar ali. Uma voz
desconhecida respondeu rispidamente que eles não precisavam de toalhas novas. A
camareira deu os ombros e partiu.
Mais tarde naquele dia, uma
mulher chamada Jean Owen (não era parente de Roland) fez check-in no hotel, e
ficou com o quarto 1048. Não conseguiu ter uma boa noite de sono. Ela ficou
incomodada com os constantes sons de pelo menos uma voz masculina e outra
feminina que discutiam violentamente no quarto vizinho. Mais tarde, Sra. Owen
ouviu barulho de briga e um pouco depois um "arfar" que achou ser
barulho de ronco. Até pensou em ligar para a recepção, mas infelizmente não o
fez.
Charles Blocher, operador noturno do elevador, também notou uma movimentação incomum naquela noite. Acreditou que estava acontecendo uma festa bastante barulhenta no quarto 1055. Em algum momento depois da meia noite, ele levou uma mulher até o décimo andar. Ela estava a procura do quarto 1026. Charles já havia a visto inúmeras vezes no hotel - ela era, como descreveu discretamente em suas próprias palavras, "uma mulher que frequentava diversos quartos de hotéis diferentes com diversos homens diferentes".
Alguns minutos depois, o elevador foi novamente chamado para o décimo andar. Ela estava preocupada pois o homem com quem devia se encontrar não estava em lugar algum. Sem poder ajudá-la, Blocher desceu novamente. Mais ou menos meia hora depois, a mulher chamou-o o elevador de novo, pois queria descer para o saguão. Uma hora depois, voltou acompanhada de um homem. Blocher levou-os para o nono andar. Por volta das quatro da manhã a mulher saiu do hotel, quinze minutos depois o homem também foi embora. Esse casal não foi identificado, e não se sabe até hoje se eles tiveram alguma conexão com o Owen do quarto 1046.
Às vinte três horas daquele
mesmo dia, um trabalhador chamado Robert Lane, estava dirigindo em uma rua do
centro da cidade quando viu um homem correndo na calçada. Ficou confuso ao
perceber que, mesmo em uma noite fria de inverno, o homem trajava apenas calças
e uma regata.
O homem acenou para o
motorista, pensando ser um taxista. Quando percebeu que tinha se enganado,
pediu desculpas e perguntou se Lane podia levá-lo para algum lugar que pudesse
pegar um táxi. Lane concordou e comentou "Você parece que se meteu em alguma
confusão". O homem fez que sim com a cabeça e resmungou "Eu vou matar
aquele [palavrão] amanhã." Lane percebeu que seu passageiro estava com um
corte no braço.
Quando chegaram ao seu destino, o homem agradeceu Lane e saiu do carro e começou a chamar por um táxi. Lane foi embora, sem saber que tinha acabado de desempenhar um pequeno papel em um dos mais misteriosos e estranhos assassinatos daquela cidade.
Por volta das sete horas da manhã seguinte, a operadora de telefones do Hotel President percebeu que o telefone do quarto 1046 estava fora do gancho. Três horas se passaram e ninguém havia ainda colocado o telefone no gancho, então ela eviou Randolph Propst para mandar que desocupassem a linha, seja lá quem fosse que estivesse usando-o. O funcionário encontrou a porta trancada, com uma placa de "Não Perturbe" do lado de fora. Alguns instantes depois de bater na porta, ouviu uma voz dizendo que podia entrar. Quando tentou abrir, viu que ainda estava trancada. Bateu novamente, mas a voz só fez pedir que ele ascendesse as luzes. Depois de mais alguns minutos de mais batidas em vão, Prost finalmente gritou "Coloque o telefone no gancho!" e saiu, sacudindo a cabeça para quem achou ser um hóspede louco ou podre de bêbado.
Uma hora e meia depois, a operadora de telefones percebeu que ainda estava fora do gancho. Mandou outro carregador de malas, Harold Pike, para lidar com o problema. Pike encontrou o quarto 1046 ainda trancado. Ele usou uma chave mestra para destrancá-la - novamente provando que havia sido trancada pelo lado de fora. Na escuridão, conseguiu distinguir a silhueta nua de Owen deitado na cama. A mesinha do telefone estava caída, e o telefone no chão. O funcionário arrumou a mesa e o telefone.
Como Propst, achou que o hospede estava apenas bêbado. Saiu do quarto sem se preocupar em dar mais uma olhada em Owen.
Pouco antes das onze da manhã, outra operadora de telefones percebeu que novamente o dispositivo do 1046 estava fora do gancho. Mais uma vez, Propst foi mandado para o quarto. A placa de "Não Perturbe" ainda estava na porta. Depois que suas batidas não foram respondidas, usou a chave-mestra para abrir e entrou no quarto.
O rapaz encontrou algo muito
pior que mera embriaguez. Owen, ainda nu, estava agachado no chão, segurando
sua cabeça sangrenta com as mãos. Quando Propst ligou as luzes, viu mais sangue
nas paredes e no banheiro. Assustado, o funcionário informou o gerente do
hotel, que acionou a policia.
Os policias descobriram que seis ou sete horas antes, alguém tinha feito coisas terríveis com Roland Owen. Ele tinha sido amarrado e esfaqueado repetidamente. Seu crânio estava fraturado por causa de diversas pancadas. Seu pescoço estava com roxos, o que sugere estrangulação. Havia sangue por todos os cantos. Esse pequeno quarto de hotel havia se tornado em uma câmara de tortura. Quando questionado o que havia acontecido, Owen, semiconsciente, apenas balbuciou "caí na banheira". Uma busca no quarto só trouxe mais enigmas. Não havia nenhuma roupa no quarto. Os sabonetes, shampoos e toalhas que o hotel ofereciam também haviam sumido. Tudo que encontraram foi uma etiqueta de gravata, um cigarro não fumado, quatro digitais sangrentas no abajur, e um grampo de cabelo. Também não foram encontradas as cordas usadas para amarrar Owen nem a arma do crime. Um empregado do hotel disse que, várias horas antes tinha visto um homem e uma mulher sair do hotel com pressa. Não havia dúvida que, na palavra de um dos detetives, "alguém mais está envolvido nisso."
Enquanto estava sendo levado para um hospital, Owen ficou em coma. Morreu mais tarde naquela noite.
Enquanto isso, os investigadores estavam rapidamente descobrindo que esse não era um caso comum de assassinato. A polícia não encontrou nenhum registro de alguém chamado Roland T. Owen, o que levou a acreditarem que era um pseudônimo. Uma mulher anônima ligou para a policia naquela noite falando que achava que o homem morto morava em Clinton, Missouri.
O corpo de "Owen" foi levado a uma funerária, onde seu corpo foi exposto publicamente na esperança de que alguém o reconhecesse. Entre os visitantes estava Robert Lane, que identificou-o como o homem estranho o qual havia dado carona no dia 3 de Janeiro. Vários bartenders deram descrições que batiam com "Owen", dizendo que haviam o visto na companhia de duas mulheres. A policia também descobriu que na noite anterior que "Owen" fez check-in no President, um homem com feições compatíveis com a dele havia se registrado brevemente no Muehleback, dando o nome de Eugene K. Scott" de Los Angeles. Igualmente, nenhum registro foi encontrado para aquele nome. Antes, Owen/Scott tinha ficado, na companhia de outro homem que não foi identificado, em outro hotel da cidade de Kansas, o St. Regis.
Também não estavam com sorte em achar o tal "Don", com quem "Owen" tinha conversado durante sua estadia no President. Seria ele o homem que estava lá com as prostitutas? Seria dele a voz desconhecida que falou a camareira que não precisavam de mais toalhas limpas? Seria "Don" o homem que "Owen" comentou com Lane que queria matar? Seria ele o homem que estava com "Owen" no St. Regis? Ótimas perguntas que nunca tiveram respostas.
Nove dias depois da morte de "Owen", um promotor de lutas chamado Tony Bernardi, identificou o morto como alguém que tinha o vistado várias semanas antes se inscrevendo para lutar. Bernardi disse que o homem se inscreveu com o nome de "Cecil Werner."
Enquanto isso ajudou a estabelecer que "Roland Owen" era um homem bastante peculiar, nada levava a descoberta da verdadeira identidade dele, muito menos a do assassino. O grampo de cabelo feminino combinado com as vozes raivosas femininas e masculinas que Jean Owen tinha ouvido, deixou os investigadores especulando que o assassinato foi o resultado de um triangulo amoroso, mas claro, isso ficou meramente na especulação. A polícia começou a ficar sem rumo e a se inclinar a dar o caso como um mistério não resolvido e, no começo de Março, as preparações para o enterrar o desconhecido em uma cova sem inscrição começou a ser feita.
Entretanto, antes de "Owen" ser levado para o cemitério de indigentes da cidade, o responsável pela casa funerária onde o corpo estava, recebeu uma ligação anônima. O homem pediu que o enterro fosse adiado até que tivesse dinheiro para pagar as despesas de um enterro decente. O homem dizia que "Roland T. Owen" era o nome verdadeiro do homem, e que Owen era noivo da irmã dele. O diretor da funerária disse que o misterioso benfeitor havia dito que Owen tinha apenas "se metido em um aperto." Também comentou que a polícia estava indo "na direção errada"em suas investigações.
Pouco depois, o dinheiro chegou pelo correio por uma encomenda especial anônima, e Owen foi finalmente enterrado no cemitério memorial park. Ninguém foi ao enterro, a não ser diversos detetives. Mais dinheiro foi enviado misteriosamente para o florista local, pagando um buquê de rosas para o túmulo. Um cartão acompanhava as flores. Dizia: "Te amo para sempre - Louise."
O caso de Owen ficou frio
até que, no final de 1936, uma mulher chamada Eleanor Ogletree ficou sabendo do
caso por uma revista "American
Weekly". Achou que a descrição dada para "Owen"
combinava com a de seu irmão Artemus que estava desaparecido. Os
O gletrees não
o viam desde que ele saiu de casa que ficava em Birmingham, Alabama, em 1934. O
intuito dele era "conhecer o país". A última vez que sua mãe, Ruby,
tinha tido noticia dele foi através de três breves cartas datilografadas. A
primeira dessas pequenas notas chegaram na primavera de 1935 - diversos meses
antes de "Owen" morrer. Sra. Ogletrre disse que suspeitou das cartas
desde o começo, pois sabia que seu filho não sabia datilografar. A última carta
dizia que ele estava "indo de navio para a Europa." Vários meses
depois, recebeu uma ligação de um homem chamado Jordan. Ele falou que Artemus
tinha salvo sua vida no Egito e que seu filho havia casado com uma mulher rica
no Cairo. Quando foi mostrada
uma foto de "Owen" morto, Sra. Ogletree reconheceu-o de imediato como
seu filho desaparecido. Tinha apenas 17 anos quando morreu.
Finalmente o homem morto havia sido identificado. Mas a justiça pelo assassinato brutal continuou sendo um mistério. Esse é um daqueles casos irritantes de assassinatos não resolvidos que são nada mais que um monte de perguntas misturadas e sem resposta. Qual era o motivo para Artemus Ogletree estar usando diversos nomes falsos? O que ele estava fazendo na cidade de Kansas? Quem o matou e por quê? Quem era "Louise"? Quem era "Jordan"? Quem mandou o dinheiro para pagar o funeral dele? Quem datilografou as cartas mandadas para Ruby Ogletree? O que diabos aconteceu no quarto 1046?
É quase certo que nunca vamos saber as respostas para essas perguntas. As investigações no caso de Ogletree foi brevemente aberto em 1937, depois que os detetives notaram semelhanças na morte dele e de um outro jovem em Nova York, mas essas pistas também não levaram a investigação há lugar algum. O caso continuou totalmente frio até agora, exceto por um estranho incidente a mais de dez ano atrás. Esse pós-escrito da história foi contado por John Horner em 2012, um bibliotecário da Biblioteca Pública da Cidade do Kansas, que fez uma extensiva pesquisa no caso de Ogletree. Em um dia de 2003 ou 2004, alguém de fora do estado ligou para a biblioteca perguntando sobre o caso. A pessoa que ligou - que não informou seu nome - disse que recentemente tinha recolhido alguns pertences de um conhecido que havia morrido. Entre esses pertences estava uma caixa contendo recortes de jornal sobre o assassinato. A pessoa que ligou disse que o jornal citava uma certa "coisa" na notícia e que esta "coisa" estaria dentro da caixa. Mas claro, não falou o que era.
Parece até adequado que um caso tão misterioso como esse tenha uma última pista tão desconcertante e inatingível como as outras.
Tradução Creepypasta Brasil
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